A lua alta brilha no céu negro.
O
vento corta em rajadas intensas.
Sobre
os ombros, um xale de lã
Aquecendo
a fria noite invernal.
Rita
Padoin
A lua alta brilha no céu negro.
O
vento corta em rajadas intensas.
Sobre
os ombros, um xale de lã
Aquecendo
a fria noite invernal.
Rita
Padoin
A
verdade nua e crua vive às margens do caminho
Quantas
luas ainda passarão, quantos sóis nascerão.
Quantas
vidas serão levadas e quantas ainda virão.
Só
o tempo sagrado poderá nos dizer.
O
caminho estará livre, sempre estará.
Os
passos serão lentos e o vento cantará friamente.
Os
olhos se abrirão e o medo tomará conta
Do
momento e da nossa imaginação.
São
as verdades nuas e cruas descortinadas
Pelas
mãos do homem sofrido que caminha cabisbaixo.
Quantas
e quantas noites mal dormidas e
Quantos
pesadelos dominaram sua mente.
Assim
vão passando os dias, as horas e as noites.
Os
pesadelos e os sonhos serão levados juntos.
A
imaginação e as nossas mãos estendidas
Tentarão
buscar e trazer para perto, os sonhos.
Rita
Padoin
Ele, também poderia se retratar – entrar em contato,
dizer que a saudade consumiu os seus dias. Que o seu corpo sentiu a mesma intensidade
que o meu. Dizer que tudo não passou de um mal-entendido, explicar as suas razões,
de ter sumido, talvez deixar clara a situação.
Desmontar toda essa confusão e revelar o que se
passa dentro do seu coração. Esses mal-entendidos poderiam ser esclarecidos. Eu
poderia tentar entendê-lo. Mostrar que tudo o que se passou foi intenso,
sublime. Mostrar que fui importante.
Entendo que talvez o sentimento seja apenas de minha
parte. Mas então, porque há invasão em meus pensamentos? Invasão em meus dias
ternos e serenos? Tudo vira uma revolução, uma guerra interior, quando, sem
permissão, ele vem - sem ser convidado.
Há pendências batendo à porta. Esse estranho caminho
que me conduz por encruzilhadas desconhecidas, me mantém em alerta.
Os sinais que a vida dá são claros. Dizem tudo o que
eu preciso saber. Mostram caminhos.
Rita Padoin
De tempos em tempos, reciclo minhas energias – rego o
jardim, rascunho versos, ouço músicas. Cada canto é uma mistura de sentimentos
oblíquos. Não entendo os porquês, nem as razões. Não entendo nada. Nada mesmo. Ainda
assim continuo a olhar, por entre as frestas da janela do tempo, para descobrir
o obvio – aquilo que foi me oferecido nas entrelinhas. Recordo algumas coisas: outras
nem sei por que estou aqui.
Minhas intenções são as melhores, mas não entende –
ou finge que não entende. Há risco de se ferir com as próprias lutas e com as
próprias mãos. Não consigo lidar com tudo isso. Será que entende? Tenho meus
métodos, minhas razões, minhas atitudes. Gostaria de ser mais paciente, mais
racional, mas é tão complicado. – tão fora da minha realidade.
Sinto que preciso me concentrar, encarar com mais
naturalidade, aceitar exatamente do nosso jeito. Os mistérios existem para serem
desvendados. Abrir portas e encarar a realidade nua e crua. Meus pés estão
dormentes: andar sem saber se o caminho é o certo cansa. Seguir convicta de que
estou certa também é arriscado. Arriscar ou caminhar devagar? Eis a questão.
Prefiro, pensar e repensar as razões...
Rita Padoin
Escrevi em linhas abertas o meu sentimento. Mostrei em
palavras o amor que sinto. Escolhi um papel delicado, adornado com borboletas –
símbolo de despertar, de alma e de espírito. Minhas mãos tremiam enquanto eu
derramava sobre a folha todo meu afeto, meu carinho, minhas intenções.
A carta ficou pronta.
O problema é o endereço.
Não sei onde ele mora.
Talvez more nas lacunas escondidas do tempo, em
algum canto perdido entre o momento e espera. Talvez viva dentro do meu peito, oculto
nas entrelinhas do que ainda não foi dito.
Dobrei o papel com cuidado, coloquei-o em um
envelope e guardei. Quem sabe, um dia, ele entre em contato – e eu possa
entregar pessoalmente. Cartas assim, sem data, podem esperar em uma gaveta. E,
se não chegar ao destinatário, ao menos aliviam o peso da alma que ama
silenciosamente.
Rita Padoin
Escritora
Eu poderia me declarar, mas o medo de ser rejeitada
me faz recuar. Não nasci para o desprezo – nasci para ser aceita, amada e
adorada. São as minhas exigências como mulher. Trago em mim a convicção de que
a mulher nasceu para ser amada, admirada e idolatrada. É a minha essência:
romântica, inteira e sonhadora. Prefiro recolher-me em mim mesma do que receber
um “não” ou um “talvez” sem coragem. Há dentro de mim um lugar sagrado,
reservado ao amor e o amor, quando chega, precisa ser inteiro.
Eu poderia ligar, mandar mensagens, áudios – qualquer
outra coisa revelando o que sinto. Poderia fazer surpresas, enviar músicas que
tocam meu coração e minha alma, músicas que talvez tocassem a dele também. Eu
poderia escrever uma carta manuscrita. Cartas a próprio punho são tão
românticas –revelam a presença íntima de quem escreve, o perfume do papel, o
calor das mãos que desenharam palavras amorosas. É como se o coração
encontrasse refúgio nas linhas.
Há tantas formas de se declarar. No amor são
infinitas as possiblidades. Eu saberia como fazê-lo, mas e se...e se desse errado?
E se ele apenas achasse graça da minha declaração? E se não entendesse minha
intenção? E se não sentisse o mesmo que eu? Esses “e se” ficam pipocando na
minha cabeça e não me deixam seguir adiante. Deixam-me em polvorosa, só de
imaginar-me tentando me declarar – e recebendo um “não” como resposta.
Preciso tratar esse meu ferimento interno. Cuidar da
autoestima que, talvez, ande em baixa. Não sei responder às perguntas que me faço
diariamente sobre esse medo da rejeição. Já pensei, repensei, tentei encarar o
que pode ter acontecido num passado não tão distante. Tentei relembrar fatos que
me deixaram assim, mas nada vem à mente. Talvez, eu precise reorganizar meu
mundo interno, entender que é coisa da minha cabeça, que esse medo não existe
de verdade. Talvez essa rejeição que sinto seja apenas fruto da minha imaginação.
Talvez seja só isto. Talvez.
Talvez eu escreva uma carta ou mande uma mensagem me
declarando. Amar é se arriscar. É colocar o coração na beira do precipício. E
se ele dizer não, aceitarei, pois terei dito o que sinto – e isso, por si só,
já é uma forma de liberdade.
Rita Padoin
Escritora
Um, dois, três toques.
Levantei-me para atender.
Quem bate na minha porta tão cedo!
Abri-a imaginando ser alguém conhecido
Para minha surpresa,
Era o amor, sorridente e confiante
Quando me deparei com ele, recuei.
Tentei fechar a porta
Mas, o amor me confrontou.
Sua força foi muito maior que
A minha vontade de o afastar
Cansada de lutar, deixei a porta
escancarada.
O amor entrou, me abraçou forte
E com aquela voz gentil me falou:
- Eu sou a base de tudo. Sem mim não és
ninguém.
O amor é o alicerce de toda a construção
Tanto do mundo, quanto do ser humano.
Aquelas palavras me calaram
E como uma flecha certeira
Entendi que esse amor é diferente daquele
Que eu imaginava.
Esse amor é o da construção do mundo e do
Ser humano.
Rita Padoin
Dizem que o amor dói fundo
Aperta e caleja sem que entendemos
Meus momentos foram eternos
E cada passo ou cada abraço ficou guardado
Momentos são assim, eternos
Ficam na lembrança. Não morrem.
Apenas, adormecem.
Rita Padoin
Quando tiro minha roupagem e estabeleço
Um mundo de possibilidades para desbravar
Sinto o peso do tempo nas costas
É um fardo que me instrui para seguir
Com a convicção de que nada mais será igual
Tudo virá ao nosso encontro mais uma vez
E outra e mais outra, até entendermos
Meu corpo está febril e minha alma gelada
Quero aquecê-la com meu corpo quente
Abraço-me fortemente tentando descongelar
Aquela que um dia me impulsionou a tentar entender
E hoje, vejo nitidamente o que ontem estava turvo.
Rita Padoin
Dizem que, quando entramos em um mundo
desconhecido e lá encontramos algo que permanece vivo dentro de nós, é porque o
que vivemos ainda não acabou. Há ainda sentimento, há algo a ser desbravado. E nesses
encontros que a vida insiste em nos apresentar, ficam peças para se encaixar, momentos
a viver, reviver e encarar. Ficam histórias para contar, e esperamos
ansiosamente o momento de terminar o quebra-cabeça – para, então, recomeçar um
novo.
Vivemos em constantes mudanças: de humor, de comportamento, de atitude, de rotina, de aparência, de emoção. Há aquelas em que mudamos de casa ou de cidade. A de casa, basta chamar uma empresa especializada. A de cidade, comprarmos uma passagem e seguimos em frente. E quando decidimos mudar os móveis de lugar? Ah, essa é a mais fácil! Basta arrastá-los e, de repente tudo muda. O ar fica leve, o ambiente mais aconchegante. Percebemos que um simples gesto pode transformar o que parecia igual.
Existem também as mudanças climáticas e ambientais – essas, difíceis de encarar, pois não temos domínio sobre elas. E quanto as mudanças culturais e sociais? As de costume, de valores, de mentalidade, de paradigmas? Essas, depende de nós. A vida, generosa, vive estendendo um tapete vermelho para que caminhemos sobre ele e entremos nesse grande evento simbólico que é a mudança – um ato de prestígio e celebração. Mesmo com medo, acabamos encarando o tapete. Mudanças são assim: inesperadas, desafiadoras, às vezes doloridas, mas essenciais para que as boas novas entrem em nossa vida. Para isso, é preciso caminhar confiantes o tapete vermelho, de cabeça erguida, com coragem para enfrentar o novo sem medo.
As mudanças existem para isto – para nos ensinar a seguir em frente, sem saber o que vamos encontrar. O segredo é não temer. É viver plenamente tudo o que nos foi destinado – seja na vida profissional, seja no amor – com a atitude de quem entende que mudar também é uma forma de florescer.
Rita Padoin
Escritora
Foste o peso exato das minhas decisões.
Nada mais fora igual. Tudo teve uma explicação.
Mesmo que sem nexo e sem entendimento
Entendi todo o processo, sem tirar e nem pôr
São os passos longos e os pensamentos curtos
Que envolveram aquele monte de perguntas sem
respostas
Quantas interrogações eu vi. Todas no ar, voantes.
As respostas não vieram e nem as dúvidas consegui
tirar
Nada. Nem um dedo em riste para me fazer calar
Ou um aceno de cabeça para eu saber para onde ir
Só o vazio de uma noite sem fim e as dúvidas.
Rita Padoin
Precisei viajar para um lugar onde o ponto mais
sensível da minha lucidez me encarasse. Entre as águas turbulentas e as
serenas, as certezas e as incertezas se encontram de certa forma. É a sinergia
que engloba o todo e não as partes. Entro em terras desconhecidas encaro o breu
como um passo a alcançar a minha luz. Nas estradas íngremes caminho devagar com
receio e nada encontro de concreto. Tenho meus momentos de paz e meus de guerra,
mas minhas lutas são sempre intensas e apaziguadoras.
Rita Padoin
Faço dos meus
silêncios, meus momentos. Lá, bem lá no centro de tudo, consigo me religar com
aquele que me protege e me ampara. Lá, me concentro e faço minhas meditações. Assim,
consigo me reerger e recomeçar de onde parei. Com a mente leve, consigo ter
força suficiente para encarar o que vem pela frente. Cada segundo que o relógio
avança é um segundo a mais. Um segundo apenas para desestruturar toda aquela sintonia
se eu não estiver em equilíbrio.
Dentro dos meus silêncios faço minha morada. Reconecto-me e todas as minhas dúvidas são sanadas, uma a uma. Meus dias se tornam leves e minhas energias revigoradas.
Rita Padoin
Lamento, mas ter que me entregar sem uma garantia,
seria o mesmo que estar vulnerável no meio de uma catástrofe e acabar sendo devorada
ou morta. Desculpa-me, não estou à disposição para algo tão inusitado e
inseguro. Procuro alguém que me queira por inteiro, sem ressalvas e sem medo de
se entregar ou viver algo novo. São as minhas condições. Entregar-me sem saber
onde vou me meter é algo que nunca esteve na minha lista de desejos. A não ser
que a outra parte queira na mesma proporção. Ai sim, a entrega será total. Sem
medo e sem delongas. Viver é assim, perigosamente atraente, porém sem ninguém
sair machucado. Esta é a minha intenção. Entrega de corpo, alma e espírito.
Portanto,
ou entra com tudo ou nem se arrisca. Meios termos não combinam comigo. Sou uma
mulher que vive sem medo e ser feliz e de se entregar quando há sentido. Quando
há conexão. Vivo para o hoje. Geralmente, fico quietinha apenas observando ao
meu redor e analisando todos os pormenores. Agora, quando eu sinto que o
terreno é seguro, vou em frente sem olhar para trás.
Rita Padoin
Vivi e morri muitas vezes
Cresci e me limitei outras.
Em cada segundo, suspirei
De emoção e de felicidade.
Tempos bons que não voltam
Mas, permanece dentro do peito
E na minha mente imaginativa
O jardim está morto, pois o inverno
Varreu para um canto e a primavera
Está quase batendo na minha porta
E as flores mortas hoje, florescerá amanhã
Como meu amor que hoje está adormecido.
Rita Padoin
Um dia, em pleno verão,
Encontrei um par de olhos
Que atravessaram minha alma.
Aqueles inesquecíveis olhos mar
Encontraram-se com os meus
E naquele momento, tudo ficou nítido.
Não precisou de explicações
Ou de estudos para entender
O que estava escrito ali
Ninguém percebeu, apenas nós dois
E a noite como testemunha.
Não tinha nem uma brisa para reter o calor
Que emanava de nossos corpos.
Nem a lua como testemunha,
Apenas algumas estrelas naquele céu negro
E nós dois com a uma distância remota.
Rita Padoin
Tuas decisões estão a flor da pele
Teus desejos embalados por uma sacola
Medos e vontades aliados na mesma sintonia
Quantos desejos vão e vem!
Vê, ainda temos um caminho a seguir
Uma vida pela frente
O destino nos reservou esse enredo
Sê alguém com coragem
Vamos enfrentar esse medo juntos
Não adianta protelar
É o amor que nos chama.
Rita Padoin
Tenho tentado suprir minhas necessidades de uma
forma que meus pensamentos se voltem para um lado que não tenha nenhum entrave.
Tento entender os porquês e as razões de certas coisas virem repentinamente em
forma de visão. São visões claras que deixam transparecer que os acontecimentos
são verídicos. Que o outro lado da história também vive o momento. Também sente
a mesma energia, a mesma conexão. Também estende a mão para se agarrar neste
algo inesperado. Algo que não conseguimos entender, mas sabemos que está
acontecendo.
Eu entendo algumas coisas. Outras ficam no ar. Eu
sei que tentar entender todo esse processo, é o mesmo que querer pegar com as
mãos, mas, sei que é algo intangível. Por assim ser, me deixa com aquela
sensação de fracasso. Sei que não é fracasso, só que a sensação, é. Sendo
assim, monto e desmonto o cenário. Crio imagens relacionadas para tentar
encontrar uma razão. Tentar entender o que a vida está me dizendo ou tentando
me dizer. Atenta aos sinais, procuro aceitar de forma amena tudo o que a vida
coloca no meu caminho. Só o tempo fará com que eu entenda e aceite 100% tudo o
que a vida traz no meu caminho.
Rita Padoin
Ele se foi com o início do outono
E voltará na primavera.
As estações servem para isto
Para relembrar de que a vida é cíclica
Pois entre a vida e a morte
Há um intervalo que pulsa ferozmente
E neste intervalo estamos vivendo
Gestos e emoções
Saudades e ilusões
Entre as forças do além
E a nossa de viver intensamente
Equilibramos as nossas utopias.
Rita Padoin
Há
dentro de mim uma voz que me chama sem cessar. Essa voz tem o poder de me tirar
do eixo e me deixar fora de mim. Tento me conectar com ela e entender o que
está acontecendo. Tento reorganizar minha vida. Tento interiorizar tudo que me
atormenta. Tento eleger um guia para me ajudar a caminhar sem me perder no meio
do caminho, tentar entender essa voz e negociar. Sentar em um lugar tranquilo e
perguntar o que ela quer comigo.
Esta pressão é uma loucura. São
tantas provocações. Tantas buscas para entender todo o processo. Sei que algo
está confuso, mas é difícil olhar para dentro de mim. Quero ser alguém sem
fantasmas. Ser alguém menos complexo. Ter o poder de comandar minha vida sem
que essa voz interfira.
As
idas e vindas são um mistério. Todos os dias tem novidades. Tem algo que
pressiona minha cabeça de uma maneira que penso que a morte chegou para me
buscar. Quero muito entender esse emaranhado que mais parecem fios e mais fios,
tipo aqueles que vemos nos postes de ruas. Olhamos, e não conseguimos entender
como funcionam.
Todos os dias, antes de
entrar em casa, eu deixo para trás tudo o que pesa. Tiro os calçados, as roupas
e me banho de paz e harmonia. Depois do banho, visto roupas mais leves e com os
pés descalços caminho pelo jardim. Observo os verdes vales naturais formado
entre as montanhas e me delicio com tanta beleza. Ao me deparar com tudo isto,
fico mais calma. Parece-me que a voz se vai ou cansou de mim. Só com a mente
vazia que consigo me libertar e seguir em frente.
Quando me entrego de alma e
espirito, limpo a mente e consigo fazer a voz se calar. Essa voz sai de dentro
de mim e me sinto leve. Consigo enxergar além da carne. Consigo entender muitas
coisas e caminhar pelos verdes vales apenas sentindo o aroma do fim de tarde.
Rita Padoin
Escritora
Rumoreja entre os prados e alamedas
A aragem de um fim de tarde calmo
E sobre o tapiz gracioso, o luar se estende
Como um lençol que sacoleja sobre o vento.
Folhas preguiçosamente caem e flutuam
Durante a estação mais pálida do ano
Antes de se acomodarem no chão
Forrando o caminho como se fosse pintura.
A palma da mão segura um segredo
Com medo de a verdade ser revelada
E os negros olhos do além cravejam
Nos ambarados selvagens da cria.
Nas ruas desertas e
frias de inverno
Correm disparados
os ponteiros do relógio
Fazendo o tempo não
entender seu papel
Nesta caminhada
entre as horas, os dias e os anos.
E os olhares
alheios não percebem
Que nada mais será
a mesma coisa
Tudo é
metaforicamente entendido
Como uma poética
entre o agora e o fim.
Rita Padoin
Tentei
me conter várias vezes. Como eu tentei! Tentei não pensar. Como tentei! Tentei
deixar para trás tudo o que me deixava ansiosa, mas não adiantou. Eu não
consegui. Sempre foi mais forte do que eu. Sempre continuou ali, me cutucando, me
perseguindo como se fosse um stalker. Vem, se aloja, me observa, me persegue e
me deixa sem ação. Não consigo raciocinar com essas manifestações rondando
minha mente. É algo que me consome por dentro e me corrói como se fosse um
ácido a me devorar viva. Sei que são apenas aparições. Nada é real, tudo é
ilusório, mas é como se fosse vivo. Fecho meus olhos e está ali, parado me
olhando com aqueles olhos mar ou sorrindo e com aquele sorriso alvo.
É tão forte que consegue me
deixar sem forças para lutar. Sem forças para seguir adiante. Sem forças para
dizer alguma coisa. São braços invisíveis que me envolvem e me pressionam. É
invisível, mas tem um poder incalculável. Sinto-me desfalecer entre esses
braços fortes. Entre as horas e o calar da noite tudo vem mais nítido e mais
forte. Nada é real eu sei, mas as sensações são. O corpo sente. A cabeça sente.
A carne sente e tudo se aquece. Nada acontece real. Naqueles momentos, tudo se
intensifica. Vai ficando tão nítido que me confunde. E essa confusão mental
acaba me distraindo do real.
Só que ao me deparar com
essas manifestações, vou entendendo as razões, os porquês e tendo a nítida
impressão de que é mútuo. Estas aparições é a conexão. Uma ligação entre o que
está acontecendo do lado de lá, refletindo no lado de cá. Com esta descoberta,
me sinto mais leve, pois sei que não é meu. É o encontro de almas perdidas em
algum momento e que voltarão a se encontrar logo.