sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Noite Invernal

A lua alta brilha no céu negro.

O vento corta em rajadas intensas.

Sobre os ombros, um xale de lã

Aquecendo a fria noite invernal.

 

Rita Padoin

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

A Verdade

A verdade nua e crua vive às margens do caminho

Quantas luas ainda passarão, quantos sóis nascerão.

Quantas vidas serão levadas e quantas ainda virão.

Só o tempo sagrado poderá nos dizer.

 

O caminho estará livre, sempre estará.

Os passos serão lentos e o vento cantará friamente.

Os olhos se abrirão e o medo tomará conta

Do momento e da nossa imaginação.

 

São as verdades nuas e cruas descortinadas

Pelas mãos do homem sofrido que caminha cabisbaixo.

Quantas e quantas noites mal dormidas e

Quantos pesadelos dominaram sua mente.

 

Assim vão passando os dias, as horas e as noites.

Os pesadelos e os sonhos serão levados juntos.

A imaginação e as nossas mãos estendidas

Tentarão buscar e trazer para perto, os sonhos.

 

Rita Padoin




quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Sinais do Silêncio

Ele, também poderia se retratar – entrar em contato, dizer que a saudade consumiu os seus dias. Que o seu corpo sentiu a mesma intensidade que o meu. Dizer que tudo não passou de um mal-entendido, explicar as suas razões, de ter sumido, talvez deixar clara a situação.

 

Desmontar toda essa confusão e revelar o que se passa dentro do seu coração. Esses mal-entendidos poderiam ser esclarecidos. Eu poderia tentar entendê-lo. Mostrar que tudo o que se passou foi intenso, sublime. Mostrar que fui importante.

 

Entendo que talvez o sentimento seja apenas de minha parte. Mas então, porque há invasão em meus pensamentos? Invasão em meus dias ternos e serenos? Tudo vira uma revolução, uma guerra interior, quando, sem permissão, ele vem - sem ser convidado.

 

Há pendências batendo à porta. Esse estranho caminho que me conduz por encruzilhadas desconhecidas, me mantém em alerta.

 

Os sinais que a vida dá são claros. Dizem tudo o que eu preciso saber. Mostram caminhos.

 

Rita Padoin

domingo, 23 de novembro de 2025

Entre Frestas e Razões

De tempos em tempos, reciclo minhas energias – rego o jardim, rascunho versos, ouço músicas. Cada canto é uma mistura de sentimentos oblíquos. Não entendo os porquês, nem as razões. Não entendo nada. Nada mesmo. Ainda assim continuo a olhar, por entre as frestas da janela do tempo, para descobrir o obvio – aquilo que foi me oferecido nas entrelinhas. Recordo algumas coisas: outras nem sei por que estou aqui.

 

Minhas intenções são as melhores, mas não entende – ou finge que não entende. Há risco de se ferir com as próprias lutas e com as próprias mãos. Não consigo lidar com tudo isso. Será que entende? Tenho meus métodos, minhas razões, minhas atitudes. Gostaria de ser mais paciente, mais racional, mas é tão complicado. – tão fora da minha realidade.

 

Sinto que preciso me concentrar, encarar com mais naturalidade, aceitar exatamente do nosso jeito. Os mistérios existem para serem desvendados. Abrir portas e encarar a realidade nua e crua. Meus pés estão dormentes: andar sem saber se o caminho é o certo cansa. Seguir convicta de que estou certa também é arriscado. Arriscar ou caminhar devagar? Eis a questão.

 

Prefiro, pensar e repensar as razões...

 

Rita Padoin

terça-feira, 18 de novembro de 2025

51 anos depois: O retorno ao nosso ponto de partida

Em 1974, éramos quatro meninas rumo à escola — Rita Padoin, Vanilda Padoin, Eleamar de Rochi e Maria Onice Cechinel. Naquele belo dia, alguém que não recordamos, tirou uma foto enquanto esperávamos o ônibus, num lugar um pouco afastado de casa, onde nossos sonhos ainda eram pequenos, mas já nos acompanhavam silenciosamente.

O tempo passou… cinquenta e um anos se foram. Cada uma seguiu seu caminho, construiu sua vida, enfrentou obstáculos, guardou lembranças, cultivou saudades. E, ainda assim, algo invisível continuou nos unindo: aquele instante inocente congelado na fotografia de 1974.

Então, meio século depois, nós quatro voltamos ao mesmo lugar. Paramos exatamente onde antes éramos apenas meninas com cadernos e esperança nos olhos. E ali, no mesmo ponto, tiramos outra foto — agora mulheres, maduras, cheias de histórias, vitórias e cicatrizes.

O cenário não era mais o mesmo, e nós também não. Mas havia algo que permanecia intacto: o laço que a vida nunca conseguiu desatar.

A nova foto não registra apenas quatro mulheres; registra o tempo que passou, o caminho que percorremos e a certeza de que algumas amizades atravessam décadas e sobrevivem a tudo.

Porque, no fundo, voltar ao mesmo lugar depois de tantos anos é um jeito bonito de agradecer à vida pela oportunidade de reencontrar quem éramos — e quem ainda somos — quando estamos juntas.

Rita Padoin
Escritora

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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Carta sem endereço

Escrevi em linhas abertas o meu sentimento. Mostrei em palavras o amor que sinto. Escolhi um papel delicado, adornado com borboletas – símbolo de despertar, de alma e de espírito. Minhas mãos tremiam enquanto eu derramava sobre a folha todo meu afeto, meu carinho, minhas intenções.

 

A carta ficou pronta.

O problema é o endereço.

Não sei onde ele mora.

 

Talvez more nas lacunas escondidas do tempo, em algum canto perdido entre o momento e espera. Talvez viva dentro do meu peito, oculto nas entrelinhas do que ainda não foi dito.

 

Dobrei o papel com cuidado, coloquei-o em um envelope e guardei. Quem sabe, um dia, ele entre em contato – e eu possa entregar pessoalmente. Cartas assim, sem data, podem esperar em uma gaveta. E, se não chegar ao destinatário, ao menos aliviam o peso da alma que ama silenciosamente.

 

Rita Padoin

Escritora 

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Refúgio nas Linhas

Eu poderia me declarar, mas o medo de ser rejeitada me faz recuar. Não nasci para o desprezo – nasci para ser aceita, amada e adorada. São as minhas exigências como mulher. Trago em mim a convicção de que a mulher nasceu para ser amada, admirada e idolatrada. É a minha essência: romântica, inteira e sonhadora. Prefiro recolher-me em mim mesma do que receber um “não” ou um “talvez” sem coragem. Há dentro de mim um lugar sagrado, reservado ao amor e o amor, quando chega, precisa ser inteiro.

 

Eu poderia ligar, mandar mensagens, áudios – qualquer outra coisa revelando o que sinto. Poderia fazer surpresas, enviar músicas que tocam meu coração e minha alma, músicas que talvez tocassem a dele também. Eu poderia escrever uma carta manuscrita. Cartas a próprio punho são tão românticas –revelam a presença íntima de quem escreve, o perfume do papel, o calor das mãos que desenharam palavras amorosas. É como se o coração encontrasse refúgio nas linhas.

 

Há tantas formas de se declarar. No amor são infinitas as possiblidades. Eu saberia como fazê-lo, mas e se...e se desse errado? E se ele apenas achasse graça da minha declaração? E se não entendesse minha intenção? E se não sentisse o mesmo que eu? Esses “e se” ficam pipocando na minha cabeça e não me deixam seguir adiante. Deixam-me em polvorosa, só de imaginar-me tentando me declarar – e recebendo um “não” como resposta.

 

Preciso tratar esse meu ferimento interno. Cuidar da autoestima que, talvez, ande em baixa. Não sei responder às perguntas que me faço diariamente sobre esse medo da rejeição. Já pensei, repensei, tentei encarar o que pode ter acontecido num passado não tão distante. Tentei relembrar fatos que me deixaram assim, mas nada vem à mente. Talvez, eu precise reorganizar meu mundo interno, entender que é coisa da minha cabeça, que esse medo não existe de verdade. Talvez essa rejeição que sinto seja apenas fruto da minha imaginação. Talvez seja só isto. Talvez.  

 

Talvez eu escreva uma carta ou mande uma mensagem me declarando. Amar é se arriscar. É colocar o coração na beira do precipício. E se ele dizer não, aceitarei, pois terei dito o que sinto – e isso, por si só, já é uma forma de liberdade.

 

Rita Padoin

Escritora

domingo, 2 de novembro de 2025

O Amor

Um, dois, três toques.

Levantei-me para atender.

Quem bate na minha porta tão cedo!

Abri-a imaginando ser alguém conhecido

Para minha surpresa,

Era o amor, sorridente e confiante

Quando me deparei com ele, recuei.

Tentei fechar a porta

Mas, o amor me confrontou.

Sua força foi muito maior que

A minha vontade de o afastar

Cansada de lutar, deixei a porta escancarada.

O amor entrou, me abraçou forte

E com aquela voz gentil me falou:

- Eu sou a base de tudo. Sem mim não és ninguém.

O amor é o alicerce de toda a construção

Tanto do mundo, quanto do ser humano.

Aquelas palavras me calaram

E como uma flecha certeira

Entendi que esse amor é diferente daquele

Que eu imaginava.

Esse amor é o da construção do mundo e do Ser humano.

 

Rita Padoin

domingo, 26 de outubro de 2025

Cada Abraço

Dizem que o amor dói fundo

Aperta e caleja sem que entendemos

Meus momentos foram eternos

E cada passo ou cada abraço ficou guardado

Momentos são assim, eternos

Ficam na lembrança. Não morrem.

Apenas, adormecem.


Rita Padoin

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Mundo de Possibilidades

Quando tiro minha roupagem e estabeleço

Um mundo de possibilidades para desbravar

Sinto o peso do tempo nas costas

É um fardo que me instrui para seguir

Com a convicção de que nada mais será igual

Tudo virá ao nosso encontro mais uma vez

E outra e mais outra, até entendermos

Meu corpo está febril e minha alma gelada

Quero aquecê-la com meu corpo quente

Abraço-me fortemente tentando descongelar

Aquela que um dia me impulsionou a tentar entender

E hoje, vejo nitidamente o que ontem estava turvo.

 

Rita Padoin




domingo, 12 de outubro de 2025

A Arte de Recomeçar

Dizem que, quando entramos em um mundo desconhecido e lá encontramos algo que permanece vivo dentro de nós, é porque o que vivemos ainda não acabou. Há ainda sentimento, há algo a ser desbravado. E nesses encontros que a vida insiste em nos apresentar, ficam peças para se encaixar, momentos a viver, reviver e encarar. Ficam histórias para contar, e esperamos ansiosamente o momento de terminar o quebra-cabeça – para, então, recomeçar um novo.


Vivemos em constantes mudanças: de humor, de comportamento, de atitude, de rotina, de aparência, de emoção. Há aquelas em que mudamos de casa ou de cidade. A de casa, basta chamar uma empresa especializada. A de cidade, comprarmos uma passagem e seguimos em frente. E quando decidimos mudar os móveis de lugar? Ah, essa é a mais fácil! Basta arrastá-los e, de repente tudo muda. O ar fica leve, o ambiente mais aconchegante. Percebemos que um simples gesto pode transformar o que parecia igual.


Existem também as mudanças climáticas e ambientais – essas, difíceis de encarar, pois não temos domínio sobre elas. E quanto as mudanças culturais e sociais? As de costume, de valores, de mentalidade, de paradigmas? Essas, depende de nós. A vida, generosa, vive estendendo um tapete vermelho para que caminhemos sobre ele e entremos nesse grande evento simbólico que é a mudança – um ato de prestígio e celebração. Mesmo com medo, acabamos encarando o tapete. Mudanças são assim: inesperadas, desafiadoras, às vezes doloridas, mas essenciais para que as boas novas entrem em nossa vida. Para isso, é preciso caminhar confiantes o tapete vermelho, de cabeça erguida, com coragem para enfrentar o novo sem medo.


As mudanças existem para isto – para nos ensinar a seguir em frente, sem saber o que vamos encontrar. O segredo é não temer. É viver plenamente tudo o que nos foi destinado – seja na vida profissional, seja no amor – com a atitude de quem entende que mudar também é uma forma de florescer. 


Rita Padoin

Escritora

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Dúvidas

Foste o peso exato das minhas decisões.

Nada mais fora igual. Tudo teve uma explicação.

Mesmo que sem nexo e sem entendimento

Entendi todo o processo, sem tirar e nem pôr

São os passos longos e os pensamentos curtos

Que envolveram aquele monte de perguntas sem respostas

Quantas interrogações eu vi. Todas no ar, voantes.

As respostas não vieram e nem as dúvidas consegui tirar

Nada. Nem um dedo em riste para me fazer calar

Ou um aceno de cabeça para eu saber para onde ir

Só o vazio de uma noite sem fim e as dúvidas.

 

Rita Padoin



quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Terras Desconhecidas

Precisei viajar para um lugar onde o ponto mais sensível da minha lucidez me encarasse. Entre as águas turbulentas e as serenas, as certezas e as incertezas se encontram de certa forma. É a sinergia que engloba o todo e não as partes. Entro em terras desconhecidas encaro o breu como um passo a alcançar a minha luz. Nas estradas íngremes caminho devagar com receio e nada encontro de concreto. Tenho meus momentos de paz e meus de guerra, mas minhas lutas são sempre intensas e apaziguadoras.

 

Rita Padoin

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Meus Silêncios

Faço dos meus silêncios, meus momentos. Lá, bem lá no centro de tudo, consigo me religar com aquele que me protege e me ampara. Lá, me concentro e faço minhas meditações. Assim, consigo me reerger e recomeçar de onde parei. Com a mente leve, consigo ter força suficiente para encarar o que vem pela frente. Cada segundo que o relógio avança é um segundo a mais. Um segundo apenas para desestruturar toda aquela sintonia se eu não estiver em equilíbrio.

Dentro dos meus silêncios faço minha morada. Reconecto-me e todas as minhas dúvidas são sanadas, uma a uma. Meus dias se tornam leves e minhas energias revigoradas. 

 

Rita Padoin

sábado, 13 de setembro de 2025

Sem medo de ser feliz

     Lamento, mas ter que me entregar sem uma garantia, seria o mesmo que estar vulnerável no meio de uma catástrofe e acabar sendo devorada ou morta. Desculpa-me, não estou à disposição para algo tão inusitado e inseguro. Procuro alguém que me queira por inteiro, sem ressalvas e sem medo de se entregar ou viver algo novo. São as minhas condições. Entregar-me sem saber onde vou me meter é algo que nunca esteve na minha lista de desejos. A não ser que a outra parte queira na mesma proporção. Ai sim, a entrega será total. Sem medo e sem delongas. Viver é assim, perigosamente atraente, porém sem ninguém sair machucado. Esta é a minha intenção. Entrega de corpo, alma e espírito.

          Portanto, ou entra com tudo ou nem se arrisca. Meios termos não combinam comigo. Sou uma mulher que vive sem medo e ser feliz e de se entregar quando há sentido. Quando há conexão. Vivo para o hoje. Geralmente, fico quietinha apenas observando ao meu redor e analisando todos os pormenores. Agora, quando eu sinto que o terreno é seguro, vou em frente sem olhar para trás. 

 

Rita Padoin

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Amor Adormecido

Vivi e morri muitas vezes

Cresci e me limitei outras.

Em cada segundo, suspirei

De emoção e de felicidade.

Tempos bons que não voltam

Mas, permanece dentro do peito

E na minha mente imaginativa

O jardim está morto, pois o inverno

Varreu para um canto e a primavera

Está quase batendo na minha porta

E as flores mortas hoje, florescerá amanhã

Como meu amor que hoje está adormecido.

 

Rita Padoin




segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Olhos Mar

Um dia, em pleno verão,

Encontrei um par de olhos

Que atravessaram minha alma.

Aqueles inesquecíveis olhos mar

Encontraram-se com os meus 

E naquele momento, tudo ficou nítido.

Não precisou de explicações

Ou de estudos para entender

O que estava escrito ali

Ninguém percebeu, apenas nós dois

E a noite como testemunha.

Não tinha nem uma brisa para reter o calor

Que emanava de nossos corpos.

Nem a lua como testemunha,

Apenas algumas estrelas naquele céu negro

E nós dois com a uma distância remota.

 

Rita Padoin

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Desejos Embalados

Tuas decisões estão a flor da pele

Teus desejos embalados por uma sacola

Medos e vontades aliados na mesma sintonia

Quantos desejos vão e vem!

Vê, ainda temos um caminho a seguir

Uma vida pela frente

O destino nos reservou esse enredo

Sê alguém com coragem

Vamos enfrentar esse medo juntos

Não adianta protelar

É o amor que nos chama.

 

Rita Padoin






segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Minhas Necessidades

Tenho tentado suprir minhas necessidades de uma forma que meus pensamentos se voltem para um lado que não tenha nenhum entrave. Tento entender os porquês e as razões de certas coisas virem repentinamente em forma de visão. São visões claras que deixam transparecer que os acontecimentos são verídicos. Que o outro lado da história também vive o momento. Também sente a mesma energia, a mesma conexão. Também estende a mão para se agarrar neste algo inesperado. Algo que não conseguimos entender, mas sabemos que está acontecendo.

 

Eu entendo algumas coisas. Outras ficam no ar. Eu sei que tentar entender todo esse processo, é o mesmo que querer pegar com as mãos, mas, sei que é algo intangível. Por assim ser, me deixa com aquela sensação de fracasso. Sei que não é fracasso, só que a sensação, é. Sendo assim, monto e desmonto o cenário. Crio imagens relacionadas para tentar encontrar uma razão. Tentar entender o que a vida está me dizendo ou tentando me dizer. Atenta aos sinais, procuro aceitar de forma amena tudo o que a vida coloca no meu caminho. Só o tempo fará com que eu entenda e aceite 100% tudo o que a vida traz no meu caminho.

 

Rita Padoin


 

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

As Estações

Ele se foi com o início do outono

E voltará na primavera.

As estações servem para isto

Para relembrar de que a vida é cíclica

Pois entre a vida e a morte

Há um intervalo que pulsa ferozmente

E neste intervalo estamos vivendo

Gestos e emoções

Saudades e ilusões

Entre as forças do além

E a nossa de viver intensamente

Equilibramos as nossas utopias. 

 

Rita Padoin






quarta-feira, 20 de agosto de 2025

A Voz interna

          Há dentro de mim uma voz que me chama sem cessar. Essa voz tem o poder de me tirar do eixo e me deixar fora de mim. Tento me conectar com ela e entender o que está acontecendo. Tento reorganizar minha vida. Tento interiorizar tudo que me atormenta. Tento eleger um guia para me ajudar a caminhar sem me perder no meio do caminho, tentar entender essa voz e negociar. Sentar em um lugar tranquilo e perguntar o que ela quer comigo.


Esta pressão é uma loucura. São tantas provocações. Tantas buscas para entender todo o processo. Sei que algo está confuso, mas é difícil olhar para dentro de mim. Quero ser alguém sem fantasmas. Ser alguém menos complexo. Ter o poder de comandar minha vida sem que essa voz interfira.


          As idas e vindas são um mistério. Todos os dias tem novidades. Tem algo que pressiona minha cabeça de uma maneira que penso que a morte chegou para me buscar. Quero muito entender esse emaranhado que mais parecem fios e mais fios, tipo aqueles que vemos nos postes de ruas. Olhamos, e não conseguimos entender como funcionam.


Todos os dias, antes de entrar em casa, eu deixo para trás tudo o que pesa. Tiro os calçados, as roupas e me banho de paz e harmonia. Depois do banho, visto roupas mais leves e com os pés descalços caminho pelo jardim. Observo os verdes vales naturais formado entre as montanhas e me delicio com tanta beleza. Ao me deparar com tudo isto, fico mais calma. Parece-me que a voz se vai ou cansou de mim. Só com a mente vazia que consigo me libertar e seguir em frente.


Quando me entrego de alma e espirito, limpo a mente e consigo fazer a voz se calar. Essa voz sai de dentro de mim e me sinto leve. Consigo enxergar além da carne. Consigo entender muitas coisas e caminhar pelos verdes vales apenas sentindo o aroma do fim de tarde.

 

Rita Padoin

Escritora

sábado, 16 de agosto de 2025

Tapiz Gracioso

Rumoreja entre os prados e alamedas

A aragem de um fim de tarde calmo

E sobre o tapiz gracioso, o luar se estende

Como um lençol que sacoleja sobre o vento.

 

Folhas preguiçosamente caem e flutuam

Durante a estação mais pálida do ano

Antes de se acomodarem no chão

Forrando o caminho como se fosse pintura.

 

A palma da mão segura um segredo

Com medo de a verdade ser revelada

E os negros olhos do além cravejam

Nos ambarados selvagens da cria.

 

Nas ruas desertas e frias de inverno

Correm disparados os ponteiros do relógio

Fazendo o tempo não entender seu papel

Nesta caminhada entre as horas, os dias e os anos.

 

E os olhares alheios não percebem

Que nada mais será a mesma coisa

Tudo é metaforicamente entendido

Como uma poética entre o agora e o fim.

 

Rita Padoin




quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Manifestações

        Tentei me conter várias vezes. Como eu tentei! Tentei não pensar. Como tentei! Tentei deixar para trás tudo o que me deixava ansiosa, mas não adiantou. Eu não consegui. Sempre foi mais forte do que eu. Sempre continuou ali, me cutucando, me perseguindo como se fosse um stalker. Vem, se aloja, me observa, me persegue e me deixa sem ação. Não consigo raciocinar com essas manifestações rondando minha mente. É algo que me consome por dentro e me corrói como se fosse um ácido a me devorar viva. Sei que são apenas aparições. Nada é real, tudo é ilusório, mas é como se fosse vivo. Fecho meus olhos e está ali, parado me olhando com aqueles olhos mar ou sorrindo e com aquele sorriso alvo.

É tão forte que consegue me deixar sem forças para lutar. Sem forças para seguir adiante. Sem forças para dizer alguma coisa. São braços invisíveis que me envolvem e me pressionam. É invisível, mas tem um poder incalculável. Sinto-me desfalecer entre esses braços fortes. Entre as horas e o calar da noite tudo vem mais nítido e mais forte. Nada é real eu sei, mas as sensações são. O corpo sente. A cabeça sente. A carne sente e tudo se aquece. Nada acontece real. Naqueles momentos, tudo se intensifica. Vai ficando tão nítido que me confunde. E essa confusão mental acaba me distraindo do real.

Só que ao me deparar com essas manifestações, vou entendendo as razões, os porquês e tendo a nítida impressão de que é mútuo. Estas aparições é a conexão. Uma ligação entre o que está acontecendo do lado de lá, refletindo no lado de cá. Com esta descoberta, me sinto mais leve, pois sei que não é meu. É o encontro de almas perdidas em algum momento e que voltarão a se encontrar logo. 

Rita Padoin