terça-feira, 11 de novembro de 2025

Carta sem endereço

Escrevi em linhas abertas o meu sentimento. Mostrei em palavras o amor que sinto. Escolhi um papel delicado, adornado com borboletas – símbolo de despertar, de alma e de espírito. Minhas mãos tremiam enquanto eu derramava sobre a folha todo meu afeto, meu carinho, minhas intenções.

 

A carta ficou pronta.

O problema é o endereço.

Não sei onde ele mora.

 

Talvez more nas lacunas escondidas do tempo, em algum canto perdido entre o momento e espera. Talvez viva dentro do meu peito, oculto nas entrelinhas do que ainda não foi dito.

 

Dobrei o papel com cuidado, coloquei-o em um envelope e guardei. Quem sabe, um dia, ele entre em contato – e eu possa entregar pessoalmente. Cartas assim, sem data, podem esperar em uma gaveta. E, se não chegar ao destinatário, ao menos aliviam o peso da alma que ama silenciosamente.

 

Rita Padoin

Escritora 

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Refúgio nas Linhas

Eu poderia me declarar, mas o medo de ser rejeitada me faz recuar. Não nasci para o desprezo – nasci para ser aceita, amada e adorada. São as minhas exigências como mulher. Trago em mim a convicção de que a mulher nasceu para ser amada, admirada e idolatrada. É a minha essência: romântica, inteira e sonhadora. Prefiro recolher-me em mim mesma do que receber um “não” ou um “talvez” sem coragem. Há dentro de mim um lugar sagrado, reservado ao amor e o amor, quando chega, precisa ser inteiro.

 

Eu poderia ligar, mandar mensagens, áudios – qualquer outra coisa revelando o que sinto. Poderia fazer surpresas, enviar músicas que tocam meu coração e minha alma, músicas que talvez tocassem a dele também. Eu poderia escrever uma carta manuscrita. Cartas a próprio punho são tão românticas –revelam a presença íntima de quem escreve, o perfume do papel, o calor das mãos que desenharam palavras amorosas. É como se o coração encontrasse refúgio nas linhas.

 

Há tantas formas de se declarar. No amor são infinitas as possiblidades. Eu saberia como fazê-lo, mas e se...e se desse errado? E se ele apenas achasse graça da minha declaração? E se não entendesse minha intenção? E se não sentisse o mesmo que eu? Esses “e se” ficam pipocando na minha cabeça e não me deixam seguir adiante. Deixam-me em polvorosa, só de imaginar-me tentando me declarar – e recebendo um “não” como resposta.

 

Preciso tratar esse meu ferimento interno. Cuidar da autoestima que, talvez, ande em baixa. Não sei responder às perguntas que me faço diariamente sobre esse medo da rejeição. Já pensei, repensei, tentei encarar o que pode ter acontecido num passado não tão distante. Tentei relembrar fatos que me deixaram assim, mas nada vem à mente. Talvez, eu precise reorganizar meu mundo interno, entender que é coisa da minha cabeça, que esse medo não existe de verdade. Talvez essa rejeição que sinto seja apenas fruto da minha imaginação. Talvez seja só isto. Talvez.  

 

Talvez eu escreva uma carta ou mande uma mensagem me declarando. Amar é se arriscar. É colocar o coração na beira do precipício. E se ele dizer não, aceitarei, pois terei dito o que sinto – e isso, por si só, já é uma forma de liberdade.

 

Rita Padoin

Escritora

domingo, 2 de novembro de 2025

O Amor

Um, dois, três toques.

Levantei-me para atender.

Quem bate na minha porta tão cedo!

Abri-a imaginando ser alguém conhecido

Para minha surpresa,

Era o amor, sorridente e confiante

Quando me deparei com ele, recuei.

Tentei fechar a porta

Mas, o amor me confrontou.

Sua força foi muito maior que

A minha vontade de o afastar

Cansada de lutar, deixei a porta escancarada.

O amor entrou, me abraçou forte

E com aquela voz gentil me falou:

- Eu sou a base de tudo. Sem mim não és ninguém.

O amor é o alicerce de toda a construção

Tanto do mundo, quanto do ser humano.

Aquelas palavras me calaram

E como uma flecha certeira

Entendi que esse amor é diferente daquele

Que eu imaginava.

Esse amor é o da construção do mundo e do Ser humano.

 

Rita Padoin

domingo, 26 de outubro de 2025

Cada Abraço

Dizem que o amor dói fundo

Aperta e caleja sem que entendemos

Meus momentos foram eternos

E cada passo ou cada abraço ficou guardado

Momentos são assim, eternos

Ficam na lembrança. Não morrem.

Apenas, adormecem.


Rita Padoin

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Mundo de Possibilidades

Quando tiro minha roupagem e estabeleço

Um mundo de possibilidades para desbravar

Sinto o peso do tempo nas costas

É um fardo que me instrui para seguir

Com a convicção de que nada mais será igual

Tudo virá ao nosso encontro mais uma vez

E outra e mais outra, até entendermos

Meu corpo está febril e minha alma gelada

Quero aquecê-la com meu corpo quente

Abraço-me fortemente tentando descongelar

Aquela que um dia me impulsionou a tentar entender

E hoje, vejo nitidamente o que ontem estava turvo.

 

Rita Padoin




domingo, 12 de outubro de 2025

A Arte de Recomeçar

Dizem que, quando entramos em um mundo desconhecido e lá encontramos algo que permanece vivo dentro de nós, é porque o que vivemos ainda não acabou. Há ainda sentimento, há algo a ser desbravado. E nesses encontros que a vida insiste em nos apresentar, ficam peças para se encaixar, momentos a viver, reviver e encarar. Ficam histórias para contar, e esperamos ansiosamente o momento de terminar o quebra-cabeça – para, então, recomeçar um novo.


Vivemos em constantes mudanças: de humor, de comportamento, de atitude, de rotina, de aparência, de emoção. Há aquelas em que mudamos de casa ou de cidade. A de casa, basta chamar uma empresa especializada. A de cidade, comprarmos uma passagem e seguimos em frente. E quando decidimos mudar os móveis de lugar? Ah, essa é a mais fácil! Basta arrastá-los e, de repente tudo muda. O ar fica leve, o ambiente mais aconchegante. Percebemos que um simples gesto pode transformar o que parecia igual.


Existem também as mudanças climáticas e ambientais – essas, difíceis de encarar, pois não temos domínio sobre elas. E quanto as mudanças culturais e sociais? As de costume, de valores, de mentalidade, de paradigmas? Essas, depende de nós. A vida, generosa, vive estendendo um tapete vermelho para que caminhemos sobre ele e entremos nesse grande evento simbólico que é a mudança – um ato de prestígio e celebração. Mesmo com medo, acabamos encarando o tapete. Mudanças são assim: inesperadas, desafiadoras, às vezes doloridas, mas essenciais para que as boas novas entrem em nossa vida. Para isso, é preciso caminhar confiantes o tapete vermelho, de cabeça erguida, com coragem para enfrentar o novo sem medo.


As mudanças existem para isto – para nos ensinar a seguir em frente, sem saber o que vamos encontrar. O segredo é não temer. É viver plenamente tudo o que nos foi destinado – seja na vida profissional, seja no amor – com a atitude de quem entende que mudar também é uma forma de florescer. 


Rita Padoin

Escritora