Foi tão fácil
decidir. Apenas nos olhamos e eu entendi tudo. Ficou algumas indecisões na
cabeça dele, eu senti, pelo seu olhar e pelas circunstancias do momento. Mas,
escutou quieto. Consentia com a cabeça vez ou outra, como se estivesse
entendendo tudo, mas não estava. Eu vi pelo seu semblante. Continuei para não
perder o raciocínio e ele não disse uma única palavra. Estático estava,
estático ficou. Invoquei-o. Provoquei-o. Porém, continuava sem ação. Abalado, me
deu a impressão. Não esperava por esta decisão, com certeza. Olhei-o mais uma,
duas, três vezes, e percebi que realmente tinha acabado. Foi como num passe de
mágica. Todo aquele sentimento, tinha se esvaído. Escorrido pelas valas comuns.
Meu Deus! Exclamei. Como tudo isto pode
ter acontecido? Como deixei chegar a este ponto? Não sei. Não era para eu ter
começado nada com ninguém, deveria ter esperado. Como pude me envolver assim?
Ele nada estava entendendo. Claro. Como poderia? Estava envolvido demais.
Franzi o cenho e parei de onde estava
para tentar me recompor e entender é claro. Caminhei de um lado a outro falando
sem parar e ele continuava ali, sentado e calado. Olhei-o mais uma vez e nada
senti. Fixei meu olhar no dele e vi que não tinha mais brilho, nem no olhar e
nem na sua aparência. Sorri com o canto dos lábios e ele retribuiu. É claro que
não estava entendendo nada.
Virei-me de costas por um instante e me
senti livre. Completamente livre. Vi-me longe de tudo. Fora de todo este
contexto. Como se eu nunca tivesse vivido nada com ele. Como se a vida tivesse
pego uma borracha e apagado quaisquer vestígios. Foi estranha a sensação, mais
boa.
Lamentou, mas no fim aceitou. Percebeu
que eu estava certa. Que não tinha mais chance entre nós. Olhou-me e com um
sorriso amarelo se levantou. Cabisbaixo, recolheu as poucas coisas que estavam
em cima de um móvel e caminhou até a porta. Olhou-me mais uma vez. Apenas um
aceno com a cabeça e nada mais. Assim que ele saiu e a porta se fechou, fechou
também mais uma história, mais um ciclo. Eu sei que fiz o correto. Eu senti.
Nunca tive tanta certeza como naquele momento. Foi incrível. Descrever, não
teriam palavras. Foi simbólico, mas profundo.
Cada vez que relembro, mais leve me
sinto. Mais livre e mais confiante me vejo. Entendi então, que realmente fechei
o ciclo. Que meu caminho estaria livre. O meu destino de novo aberto. Aberto a
novas possibilidades, novas idas e vindas, novas oportunidades, novas chances
de me reconstruir interna e externamente.
Às vezes precisamos compreender, para
entender. Assim, todas as nossas indecisões vão se alinhando uma a uma como se
fossem planetas girando em torno da sua própria órbita ou em torno do sol.
Rita Padoin
Escritora