domingo, 9 de julho de 2017

JANELAS ABERTAS

Ele tentou de todas as formas seduzi-la. Não poupou esforços para isto.  Suas palavras pareciam janelas abertas convidando para que o sol entrasse e se apoderasse do ambiente. Assim, ela o descrevia. Apesar das inconstâncias, dos danos e das loucuras, era apaziguador toda aquela situação. Seu coração sempre se abria para os momentos, mesmo os inconstantes. 

A primavera sempre viveu dentro dela. Seus olhos pareciam flores desabrochando e seu sorriso a brisa de verão. Sempre fora feliz e colorida. Não tinha tempo para os dissabores e as tristezas. Apenas vivia o momento como se ele fosse único.

Ele a desconcertava na maioria das vezes. Distorcia assuntos, brincava com seus sentimentos e ela ficava sem saber o que dizer. Ele a descrevia como o mistério, a vida em pleno êxtase e ela apenas sorria sem dizer uma única palavra. Talvez, ele a procurasse, por entender que a vida dela era apenas a leveza do tempo ou um temporal em pleno deserto. Ela não demonstrava seus segredos. Era uma mulher misteriosa e ele tentava entrar no seu mundo de qualquer forma. Sempre uma enxurrada de palavras sem nexo e sem um entendimento, mas as horas os acompanhavam sem ao menos dar um adeus.

Ela e ele tinham um pacto sem saber. As horas ultrapassavam os limites e o tempo navegava em águas revoltas. Era um momento que nenhum dos dois entendia, porém continuavam a guerra como um jogo prazeroso. Competiam com as palavras e jogavam como peças de um tabuleiro invisível. Marcavam um tempo que deveria ser vagaroso, mas acabava sendo breve, naquele momento.

Era madrugada quando o jogo iniciava e terminava no início da manhã, quando o sol entrava e batia na sua janela. Seus raios quase a cegavam. O aroma da manhã enchia seus pulmões de felicidade. As janelas abertas como ela o descrevia, preenchia o vazio que muitas vezes teimava em se alojar.

Assim, eram os dias que passavam juntos. Misteriosos, sagazes e muitas vezes tendenciosos. Ela seguia sua vida normalmente e ele também...
Rita Padoin

JANELA LATERAL

Observo da janela lateral, uma senhora de cabelos brancos.
Caminha a passos lentos e custosos pela idade ou pela dificuldade
Do tempo que se arrasta anos e anos a fio.
Seu vestido azul floral, é quase arrastado pelo vento invernal.
Olhar atento, segue firme, mesmo que o vento quisesse impedi-la.
Sobre a calçada, pequenos redemoinhos se agitam.
A velha senhora para de tempo em tempo, se segura na parede
E aguarda o vento se acalmar.
Através do vidro vi o tempo passar, o relógio correr, o sino bater e
A vida sendo arrastada mesmo que não queira.
Assim, é o cenário de um teatro vivo.

Rita Padoin 

domingo, 2 de julho de 2017

A SOLIDÃO

A solidão invadiu os meus aposentos trazida junto com a brisa do final de tarde. Ao adentrar as cortinas balançaram como se fossem o próprio vento. Elas flutuaram leves como a alma de um poeta.

Ah! Solidão, como és silenciosa! Parece a própria morte. Não dormes, apenas observas. Teu silêncio é tão escuro quanto o breu da noite. Encosta-te em cada pilar, sentas em cada cadeira, deitas em cada cama, delicias-te com todos os lugares que encontras.

Sem fazer nenhum barulho sussurras nos meus ouvidos deixando meu corpo com a sensação de frio intenso. Buscas em cada canto da casa um abrigo para tua morada. Entras e nem perguntas se podes ficar.

Sinto medo quando te aproximas sem minha permissão. Não consigo te tocar. Quero algo solúvel, algo que tenha firmeza.

- O que queres neste momento? Apenas companhia? Se for apenas isso, entra e fica, faremos companhia uma a outra.
Rita Padoin