Ainda quero morar na praia, perto do
mar. Eu mereço morar na praia, perto do mar. Mereço, porque eu amo a natureza
incondicionalmente. É necessário amar, para merecer o amor, e eu o mereço,
porque o amo. Amo-o, nas 24 horas do dia e da noite. Amo-o pelo seu cheiro,
pelo seu aroma. A maresia me inebria e deixa-me dormente perante a grandeza do
mar. É uma viagem ao além.
Amo seu som, a sua cor, ou quando ele não tem cor.
Quando tudo fica indefinido e essa indefinição me transporta para um mundo de
sentimentos neutros. Gosto de sentir a areia nos pés enquanto caminho. Ela me
leva a descobrir caminhos inevitáveis. Quando meus pés tocam a areia, meu corpo
sente a sua energia, a sua vibração. Sinto como se eu não estivesse ali. Ouço o
infinito falando. Seus sons me elevam. Meus olhos, veem além das cortinas
invisíveis do mistério e da luz. Meus pensamentos viajam e vão em busca do meu verdadeiro
eu.
Eu amo a praia e o mar, o ano inteiro; a cada minuto,
a cada segundo, a cada milésimo de segundo. Gosto de sentir o seu cheiro nas
mudanças de estações. Acompanhá-las, pausadamente. As sensações são diferentes.
O cheiro é diferente. Às vezes ele é perfumado, noutras amadeirado. Às vezes é
tão doce, que nos sentimos a própria estação. Noutras, parece que as três essências
se misturam, e aí se torna um mistério. Uma elevação dos sentidos. Um
desnudamento total.
Eu amo o mar por tantas razões, que encheria um livro
de mil páginas se preciso fosse. Descrevê-lo-ia de tantas formas, que não teria
mais lugar para colocar as palavras. Elas atravessariam oceanos e seriam
infinitas. Encheriam o mundo inteiro. Talvez, sufocariam as pessoas, de tantas
soltas no ar. Flutuariam como se tivessem asas e no infinito céu, se tornariam
aves. Bateriam as asas e se perderiam no infinito. Exagero? Mas, o amor é
assim, infinitamente exagerado.
O amor é espiritual. Tem que senti-lo.
Se não o sentir, não é amor. São por estas e outras razões que eu mereço morar
perto do mar. Rita Padoin