quarta-feira, 27 de agosto de 2025

As Estações

Ele se foi com o início do outono

E voltará na primavera.

As estações servem para isto

Para relembrar de que a vida é cíclica

Pois entre a vida e a morte

Há um intervalo que pulsa ferozmente

E neste intervalo estamos vivendo

Gestos e emoções

Saudades e ilusões

Entre as forças do além

E a nossa de viver intensamente

Equilibramos as nossas utopias. 

 

Rita Padoin






quarta-feira, 20 de agosto de 2025

A Voz interna

          Há dentro de mim uma voz que me chama sem cessar. Essa voz tem o poder de me tirar do eixo e me deixar fora de mim. Tento me conectar com ela e entender o que está acontecendo. Tento reorganizar minha vida. Tento interiorizar tudo que me atormenta. Tento eleger um guia para me ajudar a caminhar sem me perder no meio do caminho, tentar entender essa voz e negociar. Sentar em um lugar tranquilo e perguntar o que ela quer comigo.


Esta pressão é uma loucura. São tantas provocações. Tantas buscas para entender todo o processo. Sei que algo está confuso, mas é difícil olhar para dentro de mim. Quero ser alguém sem fantasmas. Ser alguém menos complexo. Ter o poder de comandar minha vida sem que essa voz interfira.


          As idas e vindas são um mistério. Todos os dias tem novidades. Tem algo que pressiona minha cabeça de uma maneira que penso que a morte chegou para me buscar. Quero muito entender esse emaranhado que mais parecem fios e mais fios, tipo aqueles que vemos nos postes de ruas. Olhamos, e não conseguimos entender como funcionam.


Todos os dias, antes de entrar em casa, eu deixo para trás tudo o que pesa. Tiro os calçados, as roupas e me banho de paz e harmonia. Depois do banho, visto roupas mais leves e com os pés descalços caminho pelo jardim. Observo os verdes vales naturais formado entre as montanhas e me delicio com tanta beleza. Ao me deparar com tudo isto, fico mais calma. Parece-me que a voz se vai ou cansou de mim. Só com a mente vazia que consigo me libertar e seguir em frente.


Quando me entrego de alma e espirito, limpo a mente e consigo fazer a voz se calar. Essa voz sai de dentro de mim e me sinto leve. Consigo enxergar além da carne. Consigo entender muitas coisas e caminhar pelos verdes vales apenas sentindo o aroma do fim de tarde.

 

Rita Padoin

Escritora

sábado, 16 de agosto de 2025

Tapiz Gracioso

Rumoreja entre os prados e alamedas

A aragem de um fim de tarde calmo

E sobre o tapiz gracioso, o luar se estende

Como um lençol que sacoleja sobre o vento.

 

Folhas preguiçosamente caem e flutuam

Durante a estação mais pálida do ano

Antes de se acomodarem no chão

Forrando o caminho como se fosse pintura.

 

A palma da mão segura um segredo

Com medo de a verdade ser revelada

E os negros olhos do além cravejam

Nos ambarados selvagens da cria.

 

Nas ruas desertas e frias de inverno

Correm disparados os ponteiros do relógio

Fazendo o tempo não entender seu papel

Nesta caminhada entre as horas, os dias e os anos.

 

E os olhares alheios não percebem

Que nada mais será a mesma coisa

Tudo é metaforicamente entendido

Como uma poética entre o agora e o fim.

 

Rita Padoin




quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Manifestações

        Tentei me conter várias vezes. Como eu tentei! Tentei não pensar. Como tentei! Tentei deixar para trás tudo o que me deixava ansiosa, mas não adiantou. Eu não consegui. Sempre foi mais forte do que eu. Sempre continuou ali, me cutucando, me perseguindo como se fosse um stalker. Vem, se aloja, me observa, me persegue e me deixa sem ação. Não consigo raciocinar com essas manifestações rondando minha mente. É algo que me consome por dentro e me corrói como se fosse um ácido a me devorar viva. Sei que são apenas aparições. Nada é real, tudo é ilusório, mas é como se fosse vivo. Fecho meus olhos e está ali, parado me olhando com aqueles olhos mar ou sorrindo e com aquele sorriso alvo.

É tão forte que consegue me deixar sem forças para lutar. Sem forças para seguir adiante. Sem forças para dizer alguma coisa. São braços invisíveis que me envolvem e me pressionam. É invisível, mas tem um poder incalculável. Sinto-me desfalecer entre esses braços fortes. Entre as horas e o calar da noite tudo vem mais nítido e mais forte. Nada é real eu sei, mas as sensações são. O corpo sente. A cabeça sente. A carne sente e tudo se aquece. Nada acontece real. Naqueles momentos, tudo se intensifica. Vai ficando tão nítido que me confunde. E essa confusão mental acaba me distraindo do real.

Só que ao me deparar com essas manifestações, vou entendendo as razões, os porquês e tendo a nítida impressão de que é mútuo. Estas aparições é a conexão. Uma ligação entre o que está acontecendo do lado de lá, refletindo no lado de cá. Com esta descoberta, me sinto mais leve, pois sei que não é meu. É o encontro de almas perdidas em algum momento e que voltarão a se encontrar logo. 

Rita Padoin

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Marcas Profundas

Queremos, porém não nos pertence de certa forma. Amamos, mas o tipo de amor que procuramos pode vir com certos empecilhos. Buscamos, só que esta busca pode nos trazer dificuldades. Tiramos nossas próprias conclusões diante dessas dificuldades e sofremos por algo que queremos e sabemos que nem sempre estará disponível. São as nossas vontades acima do que a vida dispõe.

 

E com o desejo de sentir novamente aquele toque, aquele olhar e aquela sensação de pertencimento, deixo a máscara cair e me visto de luar. São os olhos mar que me deixam como se o sol estivesse sempre entre as colinas tropicais e o céu no limite entre o agora e o que não sabemos.

 

Aquele toque sutil deixou marcas profundas e ainda sinto na pele o doce sabor do momento. E naquela noite calorosa, brilhou entre as luzes, a íris profunda e intensa. As cortinas balançaram com o rajar do vento que entrou pelas frestas da janela. Nossos olhos se encontraram no calor do momento e o silêncio disse tudo. Entre os lençóis, ficaram os segredos e aqueles olhos brilharam como o mar sob o sol.

 

Rita Padoin

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Amor x Liberdade

A vida é um breve tchau e um piscar de olhos. Ela está sempre me testando. E eu, em tremenda evolução. Sim. Todos os dias tropeço, caio, levanto e tento entender o porquê de todo esse processo. Evoluir é assim, um cair e um levantar constantemente. Muitas vezes, no caminho encontro pessoas que seguram meu braço e me encoraja a seguir em frente. Noutras, estou sozinha e com medo, mas nunca desisti de nada. Sempre enfrentei as dificuldades com garras.

E existem aquelas pessoas que já fazem parte do meu círculo de amizades. Essas também me amparam, me escutam e me protegem. Conheço pessoas quase que diariamente e as que já fazem parte da minha caminhada nem sempre as vejo. Passamos muitas vezes, dias, meses e até anos sem que nos encontramos, mas o amor que sentimos permanece vivo dentro de nós. Isto acontece porque é amor puro, amor eterno, amor de muitas vidas, amor espiritual. Tenho amizades de anos que nem sempre consigo encontrar, mas quando acontece, o encontro parece que foi ontem.

Assim, é com alguém que conhecemos e nos apaixonamos. Quando o amor é espiritual, ele é eterno. Ele perdura dentro de nós. Permanece embalado como uma pérola dentro da ostra

. A presença se torna irrelevante, porque o que sentimos está além, está nas entrelinhas do nosso coração. Está na alma de quem entende que o amor não é palpável, não é mensurável e nem pertencente a algum lugar ou pessoas. O amor é livre, leve, solto e inalcançável. Ele é apenas um sentimento que precisamos estar em profunda elevação para ter a capacidade de senti-lo, de amá-lo e criar vínculos profundos com os demais para entender. Se não elevarmos a nossa consciência, não teremos a capacidade de amar verdadeiramente.

E só estaremos prontos para viver um grande amor quando estivermos livres de todos os percalços. Deixando o caminho leve e iluminado para que possamos seguir em frente sem nenhuma bagagem. Porque o amor nada mais é do que a liberdade. I

 

Rita Padoin