terça-feira, 11 de junho de 2024

Despedida

       Foi tão fácil decidir. Apenas nos olhamos e eu entendi tudo. Ficou algumas indecisões na cabeça dele, eu senti, pelo seu olhar e pelas circunstancias do momento. Mas, escutou quieto. Consentia com a cabeça vez ou outra, como se estivesse entendendo tudo, mas não estava. Eu vi pelo seu semblante. Continuei para não perder o raciocínio e ele não disse uma única palavra. Estático estava, estático ficou. Invoquei-o. Provoquei-o. Porém, continuava sem ação. Abalado, me deu a impressão. Não esperava por esta decisão, com certeza. Olhei-o mais uma, duas, três vezes, e percebi que realmente tinha acabado. Foi como num passe de mágica. Todo aquele sentimento, tinha se esvaído. Escorrido pelas valas comuns.

Meu Deus! Exclamei. Como tudo isto pode ter acontecido? Como deixei chegar a este ponto? Não sei. Não era para eu ter começado nada com ninguém, deveria ter esperado. Como pude me envolver assim? Ele nada estava entendendo. Claro. Como poderia? Estava envolvido demais.

Franzi o cenho e parei de onde estava para tentar me recompor e entender é claro. Caminhei de um lado a outro falando sem parar e ele continuava ali, sentado e calado. Olhei-o mais uma vez e nada senti. Fixei meu olhar no dele e vi que não tinha mais brilho, nem no olhar e nem na sua aparência. Sorri com o canto dos lábios e ele retribuiu. É claro que não estava entendendo nada.

Virei-me de costas por um instante e me senti livre. Completamente livre. Vi-me longe de tudo. Fora de todo este contexto. Como se eu nunca tivesse vivido nada com ele. Como se a vida tivesse pego uma borracha e apagado quaisquer vestígios. Foi estranha a sensação, mais boa.

Lamentou, mas no fim aceitou. Percebeu que eu estava certa. Que não tinha mais chance entre nós. Olhou-me e com um sorriso amarelo se levantou. Cabisbaixo, recolheu as poucas coisas que estavam em cima de um móvel e caminhou até a porta. Olhou-me mais uma vez. Apenas um aceno com a cabeça e nada mais. Assim que ele saiu e a porta se fechou, fechou também mais uma história, mais um ciclo. Eu sei que fiz o correto. Eu senti. Nunca tive tanta certeza como naquele momento. Foi incrível. Descrever, não teriam palavras. Foi simbólico, mas profundo.

Cada vez que relembro, mais leve me sinto. Mais livre e mais confiante me vejo. Entendi então, que realmente fechei o ciclo. Que meu caminho estaria livre. O meu destino de novo aberto. Aberto a novas possibilidades, novas idas e vindas, novas oportunidades, novas chances de me reconstruir interna e externamente.

Às vezes precisamos compreender, para entender. Assim, todas as nossas indecisões vão se alinhando uma a uma como se fossem planetas girando em torno da sua própria órbita ou em torno do sol.


 Rita Padoin

 Escritora

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